segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Gentilezas de uma estátua

Um jovem andava pela bela praça da Vila dos Morangos, estava com pressa, a chuva estava a dar prenúncios através do anuviamento do céu. O rapaz, aparentemente um pouco tolo, sempre observava uma velha estátua situada ao centro da praça, dessa vez, apesar dos contratempos, não foi diferente. No pedestal da estátua havia escritos que denotavam a bravura de um homem, um homem ousado, que logo acima aparecia montado em um cavalo e apontando sua espada ao alto. Bem, o jovem não sabia quem fora aquele homem - talvez pela sua suposta estupidez, ou pelo encanto que sustentava pelo homem heroico - nunca teve interesse em ler o que no plinto estava. De fato, o destemido homem e seu cavalo eram hipnotizantes.

A magia transparecia através dos olhos do rapaz. Ele olhava a figura épica com uma atenção singular, contemplava todos os detalhes daquela estátua - desde os cascos do cavalo até a ponta da espada. Era difícil supor o que aquele parvo jovem imaginava. Seus olhos, antes atordoados e seguindo inquietos pelo caminho ventoso e nublado, estavam lá enfeitiçados, enamorados por aquele grandioso monumento. Suas pernas, que antes buscavam tirá-lo rapidamente daquela praça, agora estavam imóveis e pareciam admirar a estátua com a mesma atenção dos olhos. O jovem estava lá, boquiaberto, a olhar com a mais profunda adoração aquele senhor homérico que destacava o monumento.

Ainda estupefato, o rapaz olhou aquela brilhantíssima espada - quantas lutas ela fora capaz de vencer? - e seus olhos reluziam ainda mais embasbacados... Por um momento o jovem interrompeu sua profunda veneração: percebeu que as nuvens se omitiram e anilaram o céu novamente. Olhou para os lados com um certo ar de constrangimento, esboçou um leve sorriso e um pouco melancólico seguiu seu caminho, dessa vez ainda mais apressado.

Sem tardança, o rapaz deixou a praça. A estátua, ilustre, permanecia no centro do local. E as dúvidas jogadas ao ar: quais mistérios ostentavam aquele senhor e seu cavalo?

Calmante natural

Antes de tudo, peço a ti, leitor, que escute tua música preferida enquanto estiver lendo o texto.

Em um pacato domingo à noite, em questão de minutos fiquei com uma leve vontade de escrever. Não sabia ao certo o quê, não tinha nada em mente. Pensei em escrever sobre romances e relações, mas ninguém quer se passar por psicólogo e tentar resolver problemas alheios. Pensei em escrever também sobre alguma notícia que causa repercussão no país, quem sabe até no mundo, mas são tantos contos com opiniões diversas, e este seria só mais um. Uma particularidade minha é gostar de escrever escutando música. Então resolvi escrever sobre música. 

Usamos a música quando estamos tristes, pois ela acalma. Faz com que pensemos nas situações vividas. Expressa da melhor maneira o que estamos sentindo ou passando. Ela fala pela gente. Sempre procuramos na música uma letra que nos identifique com a ocasião. 

Já quando estamos nos divertindo procuramos as músicas exatas que nos façam alegres, que nos deixem com a estima alta. Que nos façam imaginar, nos façam sonhar. Uso como exemplo este exato momento enquanto escrevo, procuro escutar algo alegre, pois me motiva. Faz com que as palavras soem mais fáceis.

Penso que a música é o melhor meio de expressar opiniões. Uma letra criativa e bem composta é sempre bem vista pelos olhos dos amantes da música. Claro que não se deve esquecer a melodia, que às vezes passa a ser mais importante para certas pessoas do que a própria letra. 

Uma ocasião onde música é importante é em um filme. Imagine a cena de certo filme que tu adoras e retires dela a trilha sonora. A cena vai ter um nexo, mas será sem emoção e isto é comprovado por estudos. São as músicas que nos deixam emocionadas.

Sempre fui amante da música. Gosto, enquanto escuto, de imaginar situações possíveis com que aquela música se encaixaria. Viajar na melodia da música. Entrar no ritmo. Fazer com que cada compasso da música seja um passo de uma caminhada. Que cada minuto de música se torne único e é por isso que afirmo que é o incrível calmante natural da nossa vida.

Carta de ódio aos adultos

Declaro cá, meu ódio eterno aos adultos. Ódio eterno a mim mesmo, pois quando virei adulto percebi que não havia razão para o amor próprio. A razão pela qual odeio os adultos é simples: adultos não sabem viver. Confirmando, declaro meu ódio aos adultos e às adultas. Adultos jovens ou velhos. Enfim, odeio todo e qualquer adulto.

Não há ninguém que me convença a amar os adultos. Quando viramos adultos paramos de sonhar, e se não pararmos somos taxados de loucos. O adulto que sonha é louco pois, na verdade, mente para si mesmo ao querer dar razão ao seu sonho. Não há razão para se sonhar quando se é adulto. Não me engano com os adultos felizes, os quais por ventura surgem aos montes. Adultos não são felizes, e considero aqueles que veem felicidade em ser adulto como ignorantes - ou talvez ignorados.

Os adultos são chatos. Os adultos são muito preocupados. Os adultos vivem a mesma rotina de formas diferentes. Ademais, existem os adultos que fingem não ser adultos, procurando quebrar a rotina dos adultos tradicionais. Não passam de adultos diferentes, odeio eles da mesma maneira. Nenhum adulto feliz me convence. Felicidade tem idade. A felicidade termina quando passamos a ser adultos.

Dizem que o ódio faz mal, suponho que isso seja verdade. Porém, não vivo apenas de ódio aos adultos. Eu amo as crianças. Existe fase mais bela na vida? Crianças brincam, divertem-se, dançam às setes notas musicais. E, principalmente, sonham, sonham muito, têm sonhos incomensuráveis. Não há dúvidas de que existe um paraíso, nosso paraíso é ser criança.

Adultos e crianças são opostos. Por isso, todo meu ódio se transforma em amor, ao trocarmos a palavra adulto pela palavra criança. Crianças são simpáticas, crianças são felizes (de verdade), ser criança é o ápice da nossa vida. Adultos não amam, adultos não brincam, tampouco brigar adultos sabem. Pois bem, há muito sabíamos disso: "Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus." Uma pena que isso não seja possível, depois de adulto impossível nos convertermos em crianças.

Com efeito, amo crianças e odeio adultos. Mas, corrijo-me, talvez meu ódio não seja eterno, quiçá uma criança ensine-me a ter compaixão para com os adultos.