segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Meus ensaios incautos: "O inferno são os outros"

O ano de 2017 acabou! E a observação tímida que faço do meu cotidiano não tem me deixado tirar da cabeça uma passagem.

Na peça teatral Entre Quatro Paredes (Huis Clos, no original em francês), Jean-Paul Sartre apresenta a seguinte frase: "o inferno são os outros". Para compreender a sentença em sua essência, seria indispensável uma imersão na corrente de pensamento existencialista - o que não seria nada mal; porém, de antemão alertei que o ensaio era incauto e, bem, ouso molhar o pé com as reflexões que meu conhecimento superficial me dá sobre essa mensagem sartriana.

Assumir falhas, lapsos, irresponsabilidades é uma tarefa extremamente difícil. Pelo menos é isso que indica meus círculos sociais, amorosos e, especialmente, minha pessoa - meu relato se baseia nessa amostragem. Não que nunca reconheçamos nossos erros, porém, é sempre mais fácil encontrar inúmeros motivos para tirarmos de nós o fardo e jogarmos em nossos amigos, na professora "chata", no colega "egoísta", no tempo "ruim". Um exemplo ilustrativo: nós recebemos uma nota baixa em uma prova de matemática e, muito antes de prescrutar nosso passado de pouco estudo, já tentamos procurar o inferno no professor que não nos explicou o conteúdo adequadamente, no colega que ficou fungando durante a prova inteira, na caneta que falhou e nos fez perder dois minutos de tempo e assim vamos... Isto é, enxergamos nos outros os 34 cantos do Inferno de Dante, enquanto em nós precisamos de uma cartografia avançada para encontrar um pequeno purgatório.

Nesse contexto, considero algumas hipóteses. 

A primeira é perceber que, de fato, há nos outros o "inferno"; suas ações podem prejudicar-nos, magoar-nos, afetar-nos. Então, conceber que as falhas dos outros nos atingem  em diferentes escalas é ser realista. Não é vitimismo. É ser sensato. Às vezes o inferno dos outros pode nos levar a um relacionamento tóxico, a uma tristeza constante, a uma baixa autoestima. Noutro ponto, está algo que dificilmente reconhecermos espontaneamente, nós também podemos ser o inferno dos outros, nós podemos ocasionar um relacionamento tóxico, podemos motivar uma tristeza constante e cometer inúmeros desacertos. O ponto é o seguinte: o inferno são os outros, para mim e para os outros. Logo, todos nós temos um inferno.

Como lidar com esse cenário? Apelo que, no princípio, lidemos assumindo as responsabilidades pelos nossos atos. Não buscando em cada frustração que nos ocorra um inferno alheio. Que assumamos o nosso inferno, afinal! E trabalhemos para que esse seja cada vez menor. Consideremos nossa humanidade. 

Nessa linha, sejamos tolerante com a falibilidade dos outros. Mas que atuemos quando o inferno do outro nos afeta. A melhor maneira possível de agir é a partir do diálogo, buscando auxiliar o outro a lidar e amenizar seus erros. Chavões simples, porém difíceis de serem absorvidos e postos em prática. Objetivamente: considerar a humanidade que há nas pessoas. O inferno dos outros pode ter inúmeros motivos... o nosso também tem.

Desconsidere-se, claro, situações em que os erros de outrem cruzam os limites. Há casos graves, em que o afastamento e/ou medidas mais sérias precisam ser tomadas.

Alinhei esses breves e despojadas reflexões, pois um tipo de pensamento passeou inúmeras vezes pela minha modesta timeline do Twitter, o qual diz que 2018 será o ano da justiça, o ano que o carma (no ponto de vista budista, aparentemente) se revelará e afins. Quando essa ideia ressoava pelos meus amigos que a compartilhavam, parecia que havia um tom ameaçador por detrás, como se "os outros" iriam pagar pelo "inferno que há neles". Não é uma ideia que compartilho, aliás, é uma ideia que combato.

Primeiro, porque não acredito na "lei do retorno", pelo menos não na vida terrena. Mas essa é uma questão espiritual pessoal. 

Segundo, e especialmente, porque acho uma extrema falta de humildade ver apenas nos outros o "inferno". Logicamente há! Mas não penso que cabe a outra pessoa cobrar a justiça divina ou indiretamente usá-la como ameaça. 

Todos somos falhos e como ensinaria um dos milenares provérbios chineses: "Antes de iniciares a tarefa de mudar o mundo, dá três voltas na tua própria casa". 

Que em 2018 podemos aceitar cada vez mais a falibilidade do outro. Que quando apontarmos os erros, seja de uma maneira contribuitiva. Que quando não pudermos fazer nada, não pioremos a situação. Mas que não achemos inaceitáveis e cubramos com ressentimentos os erros de outrem.

Aceitemos para sermos aceitados. Portanto, acima de tudo, que em 2018 possamos assumir as nossas imperfeições. Admiti-las e, a partir disso, buscar o crescimento pessoal. Essa é minha leve oração. Direcionada a mim, mas aberta a todos.


Aldous Huxley (autor do romance Admirável Mundo Novo) nos provocou - em meio aos seus escritos no livro Contraponto - com a seguinte questão: "Sabes lá se por acaso a Terra não é o inferno de algum outro planeta?"

Então, antes de vermos o inferno dos outros, reconheçamos o inferno que pode haver em nós.

Pois... Sabes lá se por acaso não somos/fomos/seremos o inferno de alguma outra pessoa?

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Congregação Internacional dos Perturbadores do meu Sono (CIPS)

Antes de iniciar essa história, peço que tu que estás lendo analises com circunspecção a obra abaixo. Foi elaborada há 15 anos e tem uma representatividade, digamos assim, exótica. Observa a arte e tira tuas conclusões. Logo após te apresentar ela, explico a inspiração e a intenção do artista que foram a justificativa de sua criação. Cá está:


De pronto, assumo a autoria de tal pintura! Sua criação foi concebida em meio a uma noite de caos, desespero e dor. Era calor, estava tudo tão quente....

Sim, estava quente! Era verão, uma noite de janeiro ou fevereiro de 2002, não lembro bem. Estava no auge dos meus 8 anos. Deitava sereno em meu leito, pronto para o repouso. De repente, senti pequenas fisgadas em meu braço. Suspirei angustiado e resisti imóvel, ignorando as dores. De nada adiantou, continuei a sentir leves aferroadas, agora em diferentes partes do meu corpo. Dolorido e desconfortável, resolvi cobrir-me para evitar que a tortura continuasse. A quentura do meu corpo me fazia respingar o suor por toda a cama, mas mantive-me firme embaixo das cobertas. Era meu acalento. Um zumbido atormentava meus ouvidos, sabia que o perigo estava próximo de mim. Confesso, não era a primeira noite que sentia os ruídos ressoando pelo meu quarto, próximos aos meus ouvidos e não me deixando dormir. Aquela, inclusive, era a pior das noites. Eu sabia que não podia mais deixar isso acontecer. Não podia covardemente esconder-me inerte debaixo de um lençol enquanto esses seres demoníacos queriam meu sangue e minha agonia. Basta de tormento. Refleti, mesmo no estado dramático que me encontrava. Em meio ao calor, ao barulho e aos comichões cada vez mais gradativos, levantei-me! E disposto a enfrentar a situação. Não sei se o estado febril me motivou a cometer tal irracionalidade, mas me movi disposto a mostrar coragem e acabar com essa aflição de uma vez por todas.

Mas como? Acredito que todo o brasileiro que passou por essa situação, tentou resolvê-la em algum momento com um método alternativo. É um problema comum dos verões. Os mosquitos vêm, picam nosso corpo e zunem nos nossos ouvidos. Quase sempre saem impunes. Maldição! Hoje seria diferente, pensei! Hoje os humilhados vencerão! Mas como?

Reforço que tu não percas da memória a obra que apresentei lá em cima.

Bom, eu tinha de ser inventivo e tinha de ser rápido. Eu precisava ser mais esperto que esses insetos inoportunos. O chiado e as picadas persistiam. Olhei todo o quarto rapidamente por uma ou duas vezes. O interruptor me chamou atenção. Era nele que eu deveria agir, alguma voz me dizia isso - ou talvez fossem apenas os zumbidos. Mas fui atraído, a solução estava emergindo, eu sentia. Em um ato genial, abri a gaveta dos materiais escolares. Entre o livros e cadernos, encontrei o estojo. Era lá que encontraria algo. Mas, oh, nada prestava. Tesoura, lápis, caneta, cola... Não, não serviam! Continuei a procurar. Até que encontrei meu objeto. O corretivo! Sim. Seria ele a me salvar. Santo corretivo.

Empunhei o corretivo em mãos e fui aguerrido em direção ao interruptor. Iniciei minha magnum opus.

Acredito que tu já compreendeste meu intento. Sim, é isso! Simularia um homem!!! Hahaha. Iria enganar aqueles insetos malcriados.

Eu jurava estar encarnado na virtuosidade de Michelangelo e na inspiração caótica de Van Gogh. Seria uma obra com detalhes fieis e traços marcantes. Abri o corretivo e o pincel esbranquiçado revelou-se. Então, minha obra iniciou. Agi em silêncio, não podia acordar ninguém na casa. Suportei os beliscões no corpo e os agudos em meus ouvidos. Após longos 10 minutos de labuta: voilà. Materializou-se meu homem. Ah, ele surgiu! "Per ché non parli?", sussurrei modestamente.

Mas... faltava algo. Precisaria ser algo que atraísse de súbito os mosquitos. "Um pouco de marketing", pensei. Voltei à gaveta dos materiais. Lá estava a cola brilho, tendência escolar no início dos anos 2000. Era isso! Com mais brilho, mais cor, mais adorno... seria o primeiro lugar no qual os insetos se dirigiam ao adentrarem o quarto. Despejei lá, estava pronta a obra. Toda a brilhantura possível estava distribuída naquele interruptor.

Eis que tu deves estar te perguntando: "por que no interruptor?". Sim, artistas de 8 anos têm a tendência de rabiscar paredes, armários, quadros. Claro, isso seria o normal. No entanto, os artistas de 8 anos não têm o sadismo que minha alma tinha naquele momento. Marquês de Sade teria inveja. Escolhi o interruptor pois os insetos sedentos iriam se dirigir ao interruptor e ao mordiscar aquele simulacro de homem, seriam cruelmente eletrocutados. Enquanto eu, deitado em minha cama, tranquilo, riria com a alma mais leve que uma pluma. Era minha vingança escorpiana! As noites mal dormidas haviam me transformado em um menino sem escrúpulos.

Pronto! Tudo estava pronto. A obra estava finalizada e já era quase manhã. Na noite seguinte minha retaliação seria perpetrada - afinal. Deitei na cama após o trabalho árduo. Dormi, com um sorriso perverso esboçado no rosto. Sem me preocupar com os zumbidos e os picados que restavam ao amanhecer, seriam os últimos!

O dia seguinte foi de ansiedade. Só esperava a noite. Queria a noite. Minha obra seria posta à prova. 

Funcionaria? O que tu achas, leitor? Bem, os atos das crianças trazem consigo uma magia que ninguém entende, não é?

Chegou o dia e... não, é óbvio que minha ideia não funcionou. A noite seguinte foi uma tortura das piores. Parece que os mosquitos descobriram minha ideia e contra-atacaram com tudo. Eu juro, foi a maior doação de sangue involuntária da história. Amanheci 2 litros de sangue mais leve. Uma criança enfraquecida, um artista humilhado. Mal conseguia olhar novamente para minha obra.

Mas não me referia ao insucesso da minha arte rupestre quando falei da magia dos atos das crianças. Falo da magia que essa obra carrega por si. Toda a vez que a revejo, viajo à inocência a impureza daquele instante, daquela noite mágica na qual depositei toda minha imaginação e criatividade infantil nesse rabisco eterno. Não há dia em que não largo um sincero sorriso ao ver esses traços desacertados. Sei lá, há algo de belo.

Aos que querem visitar a obra, declaro que encontra-se do mesmo modo que foi desenhada em 2002. No antigo Meu Quarto, que hoje é uma sala de estudos (eterno vacilo, mãe). Faço questão de apresentá-la pessoalmente.

Eis que alguns podem achar que exagerei na história aqui contada. Mas foi assim. 

Exatamente assim.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Divórcio

Não posso manter isso por sequer um segundo. Agora é tarde demais. 

Já é tarde há muito tempo.

Eu só queria dizer que acho que tu nunca entendeste os sacrifícios que eu fiz para manter esse equilíbrio entre ti e o restante da minha vida. Hoje eu preciso recuperar minha vida de volta, eu quero minha vida de volta! Se tu tivesses agido diferente, eu ficaria, tu bem sabes do quanto me esforcei para te oferecer tudo aquilo que eu tinha de melhor. Tantos foram os lugares que te levei para te alegrar por uma noite, diferentes caminhos eu busquei para tentar te ver feliz por algum momento, mas nada do que eu fiz te envolvia. Meu efeito era efêmero na tua euforia, independente do que eu fizesse, independente se eu mudasse; e eu continuava teu refém, preso em uma síndrome de Estocolmo, tentando satisfazer tua tirania. Eu percebi, sim, logo depois, que estava nessa situação de abuso. Mas tu chegaste em um instante tão oportuno, eu estava tão triste, desajeitado e indomável, que parecia ser inexplicável a forma com a qual tu ajudavas-me a pensar sobre minha vida, meus relacionamentos antigos, meu trabalho, minha carreira e como que, supostamente, tu sempre me encorajavas a tornar minha revolta um combustível para uma mudança implacável que eu necessitava depois daquela queda turbulenta. Meu emocional mal suspirava e te sentia como um sopro de oxigênio. Imensa minha tolice. Cada vez que eu despia minha alma aos teus cuidados, roubavas de mim um pouco de meu espírito, de maneira tão sútil. Eu achei graça na primeira vez que vi tua fúria se voltar a mim, de fato, não estava querendo acreditar que eu pudesse ser culpado por uma atitude tomada por ti. Contudo, tão bem me conheceste que rapidamente entendeste meu psicológico, conseguias apontar todos os erros para minha direção e eu, ciente dos lapsos morais que me atormentavam, não sentia-me digno de negar a culpa e, por isso, tomava-a como um fardo a mais para carregar.

Assim, aos poucos, comecei a me convencer que todos os meus e teus problemas eram causados pela minha sensibilidade à flor da pele, que eu não conseguia bons frutos no trabalho, na faculdade e sequer uma noite em paz contigo pois eu ainda estava com minha cabeça imersa em tristezas do meu antigo relacionamento. Isso é tão absurdo, me flagelei tanto por te fazer sofrer que admirava como tinhas paciência para me recitar lições de moral toda a noite, quase que me ensinando a viver o dia seguinte da maneira correta. Sinto um sabor acre na boca tamanha a ojeriza que me causa somente lembrar que utilizaste um motivo tão obsceno para me manter aprisionado a tua vigilância. Minha rebeldia inicial que tu apoiaste tão veementemente já não aparecia mais em tua fala, parecia nesse momento que o melhor era ficar em repouso, te ouvindo e buscando aprender com teu professorado sublime. Não! Isso estava me fazendo mal. Tu ressuscitaste meu coração que estava praticamente morrendo para enterrá-lo vivo, soterraste-o debaixo da sujeira, sem condições de ver nada além de uma escuridão, iluminada por ti. E todo passo que eu dava, causava-me a impressão de ser em direção às trevas. Tive fobia da minha independência, por tua culpa, sentia que eu não conseguiria mais dar um passo sem estar submetido ao teu controle.

Obviamente tu recordas, eu nem arrumava mais o meu cabelo ou minha barba para ir ao trabalho, sentia a porra de um desgosto horrível ao me ver no espelho. Nunca recebi um elogio da tua boca, a não ser algumas risadas humilhante quando decidia usar aquelas calças de moletom de merda que eram as únicas coisas que restavam no meu guarda-roupa. Tu nunca disse que gostava de mim. Eu comecei a não gostar de mim também. Mas ainda tentava te dar nada mesmo do que a perfeição, vivendo em função de ti, apressando-me a todo instante para lidar com teus caprichos. Às vezes eu queria tanto te agradar que conseguia livrar-me de meu marasmo e planejava tantas coisas especiais para ti (jantares, cinema, bar, café, presentes), mas nada nunca te agradava, eu nunca parecia bom o bastante, sempre o dia errado, o presente errado, a ocasião errada; tinha que me desdobrar em dois para arrancar de ti algo além de ironia. Eu precisava ser algo além de mim mesmo. Nunca consegui. Estava quebrado por causa de tudo isso. Eu não te dedicava tempo suficiente? Tuas dúvidas quanto eu ser leal a ti? Eu só vivia em tua função, do trabalho e da faculdade para ti, sem tempo para realizar qualquer uma das minhas tarefas, aligeirando-me em qualquer atividade para voltar depressa para ti; e deste um jeito de fazer com que todas as garotas se afastassem de mim, como se eu não merecesse nada além de ti. Eu precisava definhar, não poderia receber outra perspectiva de vida além da prisão que tu me encarceravas. 

Teus términos comigo foram incontáveis. Eram só uma maneira de mostrar o quanto eu era dependente de ti. De uma maneira ou de outra, avisavas-me sempre onde tu irias com as outras pessoas, enquanto eu ficava solitário em minha cama, pensando que eu poderia morrer em vez de te perder. As paranoias que incutiu na minha cabeça, a noção de que eu não poderia ser nada sem tua presença, enquanto tu poderias ter tudo, mas escolhias ficar comigo. Quando que no menor sinal de recuperação que eu apresentava, tu voltavas para me colocar no lugar que criaste para mim. Incompreensível eu ter caído tantas vezes em teus truques, tu me mastigavas e me cuspias, deixavas-me no chão, pisavas-me. Quando eu me recompunha, tu aparecias, e eu me acolhia em ti, como um filhote se aconchega na mãe, para reviver o mesmo processo tóxico. Qualquer droga, qualquer cigarro, qualquer bebida, não chega perto do que tu representavas para mim: era o limite do vício, o mais danoso e o mais necessário.

Minha capacidade para raciocinar em benefício próprio já estava praticamente acabada, mas em um desses momentos que me abandonaste, consegui me restabelecer minimamente e refletir: "Caralho, por que ainda estou contigo? Eu mereço respeito!". Após eu recobrar um pouco da minha sanidade, conseguia entender quando meus amigos me perguntavam de como eu nunca consegui me livrar de ti. Eu sei a razão, eu estava viciado no drama, no estresse, na dor. Não sabia mais viver sem isso. Eu estava amaldiçoado. Mas ontem eu me abençoei. Resolvi levar minha decisão para ti, sem voltar atrás. Engraçado, primeiro tu riste, achando que era uma espécie de chacota minha para que tu voltasses para mim; depois, percebeste que eu estava te superando e pela primeira vez disseste que eu era especial. AH, EU ERA ESPECIAL? Nunca me senti especial contigo, somente um inútil, amordaçado aos teus pés e perdendo a dignidade junto a minha família, meus amigos, meu trabalho e a faculdade graças a ti; por último, maldosa e vingativa, como de costume, disseste que seria fácil encontrar outra pessoa melhor e mais importante que eu. Sofri um nó na garganta ao saber que mais alguém poderia passar pelo sufoco de ter a mente bagunçada pelas tuas artimanhas. Porém, não quero pensar que existirá alguém tão vulnerável para aguentar sofrer o mesmo que eu sofri.

Quando eu estava indo embora, gritaste que tu sentirias minha falta. Falaste-me para repensar e ver se eu realmente queria tomar aquela atitude. Não, não preciso repensar! Dessa vez eu não mudarei de ideia. Perdi muito da minha vida nas tuas mãos. Eu estou abandonando essa prisão. 

Cumpri, injustamente, minha pena. Agora é tarde demais.

Já é tarde há muito tempo. Foram quatro anos.

Quero me libertar.

Adeus!

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Queda, remorso, perdão e resistência

Senti medo de voltar a escrever aqui. Passei por um bloqueio muito forte e uma certa covardia em liberar meus sentimentos, em digitá-los, escrevê-los ou manifestá-los deliberadamente. Escondi-me em meus mistérios. Escrevi inúmeros contos solitários. Fui meu escritor, meu público e meu crítico. Fui meu exílio, minha solidão e meu aconchego. Há na introspectividade um charme evidente. Decerto, animo-me em ter dedicado tempo para compreender minha essência, entender meus desalentos e cortejar minha rebeldia. No entanto, confesso, estava acovardado. 

Senti uma pancada muito forte - em 2013. Na faculdade, notas máximas; nos relacionamentos, de amizade a paixão, nunca tive problemas, sempre havia ombros, lábios, volúpia. Tudo ocorria bem. Mas, não, não adiantava. Eu sempre fui o tipo de pessoa que percebia o céu desabando. Nunca soube bem o motivo. A sério, gosto da melancolia, descobri com o passar dos tempos. Culpo a literatura por isso; Shakespeare, Wilde, Keats, Byron... não sei se vos agradeço ou vos maldigo - de fato, nem sei se é vossa culpa. Afinal, aconteceu. Em 2013, meio do ano, acredito. Desequilibrei-me agudamente. 

Não transpareci. Tive medo, apenas. Medo de esquecer quem eu era e quem eu deveria ser. Sentia-me cansado, todos os dias. Pedia perdão a Deus, docemente, às noites. O tempo parecia estar passando muito rápido e as coisas já não faziam mais tanto sentido quanto faziam. Meu refúgio foi a liquidez, mergulhei-me na efemeridade. Na internet, nos relacionamentos, na universidade. Apesar disso, ainda havia culpa e consciência. Eu as sentia. Tornei-me um hedonista que se auto martirizava. Um absurdo. Uma confusão. Para mim e para os outros.

Lembro de repousar a cabeça sobre o travesseiro e, ao sentir tocar as lágrimas avinagradas do pranto em meus lábios, dizer em voz baixa, às paredes do quarto:

- Quero ir para casa. Para o lar dos meus pais. Eu quero ir pra casa! Sinto a falta deles!

Lembro de sentir um fúria estremecer meu corpo após eu ter dito isso. De uma respiração ofegante, asmática, ter me perturbado por alguns minutos. Lembro de ter me acalmado depois. De ter puxado o cobertor e descansado. De ter esperado, sem contestar, o dia seguinte chegar.

Vivi muitas paixões nesse tempo. Doce subterfúgio! Acordei com sorrisos tão apaixonados que quase rompiam com esse medo que se empoderava de mim. Apaixonei-me tanto, mesmo sabendo de um destino quase traçado. Quis viver a tragédia. Socos na parede; poesias desesperadas; fugas românticas; deleites ardentes; lágrimas, lágrimas, lágrimas. De exímio galanteador - incontáveis relacionamentos ao léu - a notável desacompanhado - desamparo onipresente. Provoquei dores terríveis e, sobretudo, senti-as violentamente. Minha desordem se ocultava em um invólucro de serenidade. Entre fugazes euforias e dramáticos desfechos, esse peso romântico ampliava a sensação de desencanto que já sentia. 

Em um dia qualquer, uma garota que eu adorava, compreendeu minha situação, assimilou minha covardia. Diagnosticou-me. Reconheceu o meu estado, ofereceu ajuda, carinho e proteção. Ela quis me dar zelo, apesar de todo meu desarranjo emocional. Não pude aceitar. Fugi! Refugiei-me em minha cama, outra vez a conversar com as paredes. Eu só queria gritar, gritar muito alto, surtar esbravejando tudo que viesse a mente. Contive-me. Restou-me o silêncio e o embaraço. Transbordou-se, em mim, uma atmosfera entristecida.

Esses episódios se misturam a outros. Tantas foram as debilidades que permearam esse período. Tive problemas com a faculdade, com os amigos, com a rotina, com tudo. Entretanto, o maior problema estava em mim mesmo. Questão interna. No externo, normalidade, notas seguiam boas, os relacionamentos fluíam, a vida seguia. Porém, eu estava em decadência. Precisava de máscaras cotidianamente, desdobrava-me para continuar suportando o dia. A noite, porém, clamava angustiado por uma transgressão.

Desde de 2013, havia um pequeno pedaço de mim conclamando a mudança. Uma resistência que proclamava a revolta. Era um protesto insignificante, porém. Quase me entreguei a vida que não queria ter. Quem sabe um dia acostumaria, pensei. Mas preferi o confronto. Não me parecia justo aceitar que minha vida não fosse regida por meus princípios, minhas vontades, minha consciência. Não me convinha mudá-los apenas para adequá-los a uma vida que eu não desejava.

Estou, agora, em uma noite de 2015. Faz dois anos que eu caí. Faz dois anos que estou tentando levantar. Faz dois anos que iniciei um processo de profundo autorreconhecimento. Faz dois anos que sigo como um pícaro, aventurando-me, obstinado a me encontrar. Faz dois anos que estou perseverando insurgente.

Não há sentido neste desabafo. Senão minha necessidade de vociferar minha mudança. Sei que estou passando por mudanças! É, eu estou passando mudanças! Nos últimos dias eu apreciei uma mudança! Nesta semana eu acordei tão diferente... pois consegui mudar.

Sorrio, enquanto escrevo essas últimas linhas, pois suportei meus temores e lutei. 

Sorrio, enquanto termino este texto, pois ele é um sinal de revolução. 

Sorrio, somente sorrio... pois sei quantos conflitos enfrentei para estar agora sorrindo.

"Vincere cor proprium plus est quem vincere mundum."

terça-feira, 21 de abril de 2015

Cigarette

Em algumas noites, meus olhos imploravam para que eu lhe observasse, era impossível disfarçar o fascínio que sentiam ao vê-la tão irresistível na roda de amigos. Não sabia muito bem como me aproximar, não levo muito jeito para essas coisas, mas pensei em várias formas de fazer isso. Só que todas as formas pareceriam erradas, acho que não havia como não errar quando eu lhe tocasse com meus lábios.

Havia aquelas noites em que eu não prestava muita atenção em você. Eu pensava comigo: "É uma admiração meio boba, não temos um estilo parecido e talvez você perca sua graça ao meu lado". Me desprendia. Circulava pela massa, conhecia novas pessoas, sentia novos prazeres. No entanto, ainda assim, meio de canto, eu te via e imaginava o quanto eu lhe queria. Quando seria?

Pois bem, chegou o dia. O derradeiro dia em que nos aproximamos. E tudo foi tão bom. Um encontro natural, tão natural que meu encanto aumentou. Então saímos da multidão e nos perdemos em nós mesmos. Senti-me livre no seu enlace, um suave aconchego. Embebidos em desejo e escondidos de todos. Foi assim que, enfim, acendeu-se o fogo. 

Mas quando me afastei de você, percebi o quão grande poderia ser meu sofrimento em suas mãos. Era uma atração imensa. Não seria a primeira história de dependência, que uma relação tão intensa como essa causaria. Sabia que tudo isso parecia não ser saudável. Procurei encontrar um jeito de não me entregar, pois uma paixão tão implacável como essa poderia ter efeitos colaterais impossíveis de curar.

Para evitar esse tipo de situação, estabeleci uma cota mensal para manter a sobriedade: lhe amaria apenas uma vez por semana. Um tratado meio inocente. Mas conhecendo meus limites, não poderia ser incoerente e dizer que saberia quando parar. As primeiras semanas foram maravilhosas. Eu não conseguia disfarçar que era após lhe ver que o mundo ficava mais sereno. O porteiro do prédio foi o primeiro a perceber, me viu passar e fez aquele bico de desaprovação: "Tão tolo!", deve ter pensado; depois foi a dona da padaria que notou a atmosfera e meu sorriso bobo e devolveu um olhar compreensivo, quase que falando: "Eu te entendo."; alguns amigos os quais comentei sobre o frisson que sentia com você tinham reações diferentes, uns reprovavam, alertando-me dos danos dessa relação contraventora, outros compreendiam felizes, mas receavam me estimular, sabendo dos riscos. Entretanto, todos concordavam que você me trouxe paz. Vivíamos num doce equilíbrio, que foi tão fugaz...

Numa noite qualquer, sei lá por quê, me permiti lhe amar seis vezes. Êxtase total. Mas depois veio o sufoco. Seu sabor ficou impregnado em quase tudo: em minha boca, em meu cabelo, em minha roupa. E me deitei com o peso na consciência de que tínhamos ido longe demais. O primeiro dia depois dessa noite foi tranquilo, fui limpando todo estrago que você deixou, tentei me livrar da sua fragrância, que ficou na minha cama, no meu travesseiro, em meu quarto por inteiro. Imaginei que havia conseguido, passei o dia distraído e meio que nem pensei em você. No segundo dia a vontade aumentou e, então, comecei a te ver nos detalhes: aquela xícara de café que tomamos juntos estava com seu gosto; aquele dia em que te acolhi em minhas mãos enquanto lia ansioso o último capítulo, deixou o livro repleto do seu perfume; aquela camisa da nossa primeira noite estava ainda com a sua marca. Estava ficando difícil. No terceiro dia acordei atordoado, saí de casa decidido a ir até você, apesar de eu ter jurado que nunca romperia aquele tratado. No meio do caminho, desisti. Notei que minha obstinação em querer você não era sadia, sentei naquele banco da praça, o qual passamos um solitário dia juntos, e refleti sobre nosso apego que já se tornava insalubre.

De repente, observo meu amigo vindo em minha direção, junto com ele estava você. Ele parou para conversar, mas não era difícil perceber nossa fixação. Acredito que ele descobriu nossos caprichos e preferiu sair, deixando que nós nos entendêssemos. Ficamos a sós, mais uma vez. Uma mixórdia de sentimentos me embrulhava o estômago. Você ficou em silêncio o tempo todo, mas quando eu lhe olhava, parecia que você gritava para mim que não daríamos certo, que não saberíamos nos amar. Precisei engolir a inquietação, o desejo, o nó na garganta. Tive que lhe largar sozinha naquele banco e voltar às pressas para casa.

A dor maior foi a da renúncia. Aceitar não ter mais sua companhia. Eram duros os dias em que eu girava de um lado para o outro no meu quarto, obcecado, aflito, estressado e longe de você. Foram alguns irrequietos meses de abstinência até que eu entendi. Finalmente, eu entendi.

Talvez não sejamos aquela sensação de alívio.

Talvez sejamos aquela dor aguda no peito. 

Parecida com a que eu senti quando traguei meu último cigarro.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

*100

Era uma manhã fria, o fim do outono trazia consigo um ar entediante. Por ter acordado cedo, não encontrei nada de muito útil para fazer em casa, porventura, surgiu-me a ideia de passear pelas ruas, era o que a timidez do silêncio indicava. Subitamente, coloquei meu casaco e resolvi caminhar pelos arredores da cidade. O passeio estava monótono, porém era belíssimo ouvir os pássaros cantando. Até que, na metade de meu trajeto errante, observei o cemitério da cidade, com uma umbrosidade que foi célere em me aliciar. 

Adentrei e fiquei a reparar alguns túmulos, quando um me chamou grande atenção, pois sobre a sepultura desse estava um papel - na verdade, uma folha arrancada de um caderno, ainda com as marcas do espiral - com um texto nele escrito. Resolvi me aproximar, mesmo receoso, e, quando me vi em frente ao sepulcro e do papel, ponderei se deveria ler aquilo ou não, mas sabemos que a curiosidade é sempre maior que o pudor. Antes de consultar a folha, procurei identificar qual pessoa jazia naquele túmulo: era uma mulher que falecera havia apenas um mês, estava com amáveis 62 anos. Irrequieto, decidi pegar o papel e lê-lo, achei estranho, pois aquela delicada folha, apesar de amarrotada, estava completamente legível, mesmo com a forte chuva que havia ocorrido na última noite, o que aguçou ainda mais meu interesse. Pois bem, sentei-me na própria sepultura daquela mulher e me pus a ler o que estava escrito naquele curioso papel. Senti um grande impacto após ler aquilo e, por isso, relato para vocês o quê, naquela simples folha, estava escrito:

"Oi, mãe. Não sei com qual maneira deveria me comunicar contigo, porém, lembrei-me que escreveste uma carta para mim quando eu tinha nove anos, tu viajaste para visitar meu avô, após uma semana que estavas distante eu imaginei não estar com saudades de ti, mas quando eu li tua carta, emocionei-me com tuas palavras, disseste-me que eu devia estudar para a provinha e que o papai iria me ajudar já que tu não estavas lá. Corri para meu quarto e chorei, nem me importava com os gibis que me deste de presente junto com a carta, eu só queria te ter comigo, pois, enganei-me, eu sentia muito tua falta.

Hoje acordei cedo, com a mesma preguiça que sempre te irritou. Não, não arrumei a cama e nem adianta reclamar, hoje a cama passará o dia desarrumada. Pois é, eu também tomei meu café-da-manhã, mas dessa vez lavei a louça, aprendi que quando eu não fazia isso tu ficavas de birra comigo e não fazias o pudim de chocolate que eu e meu pai tanto amávamos. 

Nesse momento, lembrei-me daquela vez que te pedi para me ensinar a fazer o melhor pudim do mundo, queria que minha namorada, que viria no dia seguinte, comesse-o de sobremesa na primeira vez que ela nos visitaria. Porém, tu tinhas que sair à noite para trabalhar e voltarias tarde, mas ainda assim rapidamente me ensinou e me deixou sozinho com os ingredientes. Eu me esforcei, mas não consegui fazê-lo, ficou com uma aparência horrível e um gosto ainda pior, fiquei muito irritado, deixei aquele pudim ridículo na pia junto às louças sujas e fui dormir. Na manhã seguinte, acordei as onze horas, logo fiquei bravo com a piada que fizeste sobre o meu fracassado pudim. Após almoçarmos me surpreendi quando disseste: 'Teu namorado ficou a noite toda preparando para ti essa sobremesa.'. Tu foste buscá-la sorrindo e a comemos também sorrindo, acho que foi o melhor pudim de chocolate que tu fizeste - ou quê, entre nós, eu fiz. De fato, não valeu tanto a pena, aquela semana que te preocupaste por eu só ficar trancado no meu quarto foi a semana em que a mesma namorada terminou comigo, é, acho que nunca deixei clara essa história para ti.

Aposto que tu sabes que a casa está uma bagunça agora sem ti, acho que eu puxei para o pai como tu sempre me dizias. A todo momento tu te queixavas dos modos ruins que eu e ele tínhamos, sempre deixando tudo pelo caminho e sujando toda casa. Lembro também quando lemos juntos para ti aquele texto do Carlos Drummond de Andrade, Casa Arrumada, sorriste muito e eu percebi que escondeu tua emoção, mesmo falando depois que não poderíamos usar o texto como desculpa. Também me lembro daquela vez que fiquei um mês na praia e tu me ligaste para dizer que a casa estava limpa e que sentias saudades e eu respondi que sabia que tu gostavas da casa do jeito bagunçado que nós sempre deixávamos.

Lembrei das brigas também, mas agora elas não fazem mais sentido. Enfim, agora eu digo por que senti tua falta e te escrevi isso, é por que hoje eu recolhi a roupa. Sabes, tu sempre costumavas deixar irritantes mensagens de voz na minha caixa postal, que não diziam nada, era tu que não sabias mexer no celular e esquecias de encerrar a ligação antes. Decidi apagar aquele sinal incomodativo da caixa postal que estava no meu celular há uns três meses. Dentre todas as mensagens erradas de ti e do pai, ouvi uma que tinha tua voz, me enviaste no dia do casamento da tua irmã. Lembro-me de ti desesperada, ligando-me umas quinze vezes para tirar do varal as roupas que iríamos usar no casamento naquela noite, eu estava dormindo e não te atendi e a chuva molhou todas as roupas. Só hoje que eu fui ouvir: 

'Filho, recolhe a roupa que vai chover.'

Desculpa por aquele dia, mas hoje, fica tranquila, eu recolhi.

Te amo, mãe."

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Nostradamus

As previsões sempre dão certo. Tudo é como era para ser. Com efeito, tudo é como era para ser. Mas, por favor, sejamos diferentes, descontínuos, ilógicos. Eu suplico, esqueçamos os planos dos deuses, digamos não aos  amores que sempre se completam. Vejamos nossos valores, não há dessa sorte hoje, em nenhum lugar: todos estão onde deveriam estar, sem exceção. Não ambicionamos essa sina, precisamos reinventá-la; venha comigo. Apenas os sonhos prosseguem verdadeiros, irrealizáveis, eu quero o prazer de surpreender a ti e a mim mesmo, realizando-os.

Quero que te desconcertes, quero que desligues as razões. Tudo é tão supérfluo, o amor é uma barbárie tão perdida. Me ajudes a criar um colapso, a descompor toda construção divina, a resgatar nossa audácia infantil aos poucos desconstruída. Não gosto dessa nossa liberdade, ela é usada de forma tão pífia. O atual amor é insuficiente, fujamos disso, é sombrio e solitário. Desde quando o amor é tão complexo? Desde quando o amor é tão simples? Sei, tudo é incorreto.

Façamos nossa própria distopia. Essa é a nossa luz. Sejamos diferentes. Nossas rebeldias atuais são inoperantes. Quero algo além do mundo. Venha, quebraremos o ciclo, dominaremos o que nunca foi nosso. As coisas não descobertas, simplesmente, estão perdidas, mas não conosco. Por que só Deus pode quebrar a lógica? A magia é irrestrita. 

Não, não me dê o amor de Shakespeare.